
A Fórmula 3 Brasil chegou ao fim de 2017 com meia dúzia de carros no grid, literalmente. É o patamar que pilotos e equipes esperam alcançar para que a temporada comece no Velopark. Será que dá?
CASCAVEL – Fiz uma postagem hoje na internet sobre o indicativo de cancelamento das corridas que abririam (ou abrirão) neste fim de semana no Velopark a temporada da Super Fórmula Brasil, novo formato da Fórmula 3. Algumas dezenas de comentários pingaram na postagem, uma ou outra fazendo menção à necessidade de providências por parte da Confederação Brasileira de Automobilismo – eu mesmo havia escrito que a situação é preocupante e que exige atenção especial do presidente Waldner “Dadai” Bernardo e de seu séquito.
Os comentários ali registrados vieram de gente bastante qualificada no meio das corridas, inclusive, mas que aparentemente não vão lançar à mesa uma solução milagrosa capaz de manter viva a Fórmula 3, ou a Super Fórmula Brasil. E, conforme eles mesmos observaram, os participantes da postagem, não é função da CBA promover campeonatos, muito embora seja ela o primeiro alvo das cobranças quanto algum gato sobe no telhado – e, em que pesem as trocas de e-mails e telefonemas que acontecem neste exato momento na tentativa de se manter o evento de sábado e domingo no Velopark, o gato da F-3 subiu telhado.
É o fim? Torcemos obviamente para que não, embora o processo de sobrevivência dependa de uma lista enorme de fatores, alguns deles óbvios, como entendimentos entre as equipes participantes e os promotores, ou das equipes participantes com elas próprias e também com os pilotos que aguardam, cada um com um pé atrás, o desfecho que essa novela vai ter.
Falei rapidamente com o Dadai ao fim da tarde, em meio à sua agenda doida que deve ser coisa normal para um presidente de CBA. A entidade deu, sim, especial atenção à F-3 brasileira em sua gestão. Não só isentando totalmente as taxas de realização do campeonato, mas também com o trabalho de corpo a corpo com promotores de eventos para que as etapas das duas últimas temporadas acontecessem. No último ano, por exemplo, a categoria integrou etapas do Porsche Cup, do Endurance Brasil e da própria Stock Car, com quem ainda pode dividir programação nos próximos dias em Nova Santa Rita.
Houve mais, eu preciso lembrar. O gaúcho Pedro Goulart disputou a última temporada da classe de acesso Academy totalmente custeado pela CBA, como prêmio pelo título brasileiro de kart que conquistou em 2016. Mesmo prêmio que seria (ou será) pago ao paulista Lucas Okada em 2018 pelo título de kart do ano passado. Um investimento planejado para mais que o dobro na temporada que estaria prestes a começar, aliás: o nipo-mineiro (criei essa definição agora) Ígor Fraga, por ser o atual campeão da Academy, passou o réveillon comemorando a temporada custeada pela CBA na classe principal em 2018. Um prêmio que deverá ser reconfigurado – repaginado, para usar um termo que usam bastante – se a Super Fórmula Brasil não vingar. Sem questionar o mérito dos pilotos que fazem por merecê-lo, esse prêmio me parece uma ação desproporcional diante do que a CBA oferece como fomento a pilotos e campeonatos. Impressão minha, apenas, que agora compartilho com vocês.

Os carros da antiga Fórmula Futuro, iniciativa de Felipe Massa no início da década, serviram até ano passado à Fórmula 4 sul-americana, campeonato que teve gerenciamento dos dirigentes uruguaios.
E, em meio às dúvidas quanto à sobrevida da F-3 sob seu novo nome, surge também a iminente retomada da Fórmula 4 no Brasil. Ora, é viável que se tente fomentar um novo campeonato se o atual vai tão mal das pernas? Considero, nessa minha questão, o fato da F-4 ser praticamente a mesma coisa que a F-Futuro que Felipe Massa empurrou com o peito por três anos no Brasil, de 2010 a 2012, até descontinuar o campeonato e transferir o espólio da categoria a dirigentes uruguaios, que fizeram o que lhes esteve ao alcance até o ano passado – e ficou nisso. São desafios distintos, e Dadai assume sem problemas que a CBA está envolvida, sim, nessas tratativas. Não deveria ser diferente, afinal. Tratativas que passam, também dentre uma lista imensa de fatores, pelos projetos de viabilização da verba para subsídio e pela definição de um promotor. Imaginei que isso, a escolha de um promotor, já tivesse acontecido, a julgar pelo que comentaram pessoas íntimas do automobilismo na postagem que citei lá no primeiro parágrafo, sugerindo que um anúncio a respeito está saindo do forno.
Não, nem perto disso, segundo o Dadai, e aí me ponho a pensar que o assunto Fórmula 4 pode na verdade estar desmembrado em dois. Um, o que meus colegas de internet sugeriram em seus comentários, talvez contemplando os carros que eram da F-Futuro do Massa e que serviram ao gerenciamento uruguaio da F-4, e outro, esse que a CBA tenta colaborar para que saia do papel, com carros fornecidos pela Tatuus ou pela Mygale, que são fábricas homologadas pela FIA, e que seria um campeonato com custos similares aos do kart, talvez até menores.
É um balaio-de-gato em que se faz conveniente a teoria do copo meio cheio ou meio vazio. No que tange à possibilidade do Brasil ter uma Fórmula 4 exercendo de fato o papel de categoria-escola para os garotos recém saídos do kart e que sonham com a Fórmula 1, o copo está meio cheio – são garotos que, nos últimos anos, têm direcionado suas carreiras a séries de turismo como a Sprint Race, a Stock Light ou o Brasileiro de Marcas. Diante da situação de penúria da ex-Fórmula 3, está meio vazio.
Qual seria a fórmula do sucesso?

A Fórmula 3 enfrentou momentos bastante críticos no Brasil na última década. A torcida é para que a crise da vez não seja a última. Ainda acredito que poderemos ver os carros na pista no Velopark.